Tenho saudades de quem não devia... ou então de quem não seria suposto sentir. Ele. A sua segurança. A sua maturidade. O seu contraste. O seu calor. O seu olhar. O seu sorriso malandro de quem me quer. A sua brincadeira. A sua certeza. Os seus objectivos e os seus sonhos. Comigo.
Inacreditável no final de Maio vivermos o que hoje pela primeira vez, vivi: Inundações. De facto, tinham alertado a população para o perigo de inundações. E não se enganaram. Ruas barradas, rios a sairem fora dos caudais, acidentes nas estradas, escolas a fecharem... Enfim. Uma situação bastante caótica. Felizmente que agora a chuva parou um pouco. Os meteorologistas dizem que amanhã durante a noite a chuva irá voltar, mas ate lá esperamos que os níveis da água desçam...
Ainda não falei aqui do momento da minha partida... Todos nós temos o nosso tempo de aceitação à mudança, e quando nos confrontamos com a mudança é sempre mais difícil de falar sobre o assunto. Assim funciona comigo.
Não foi de todo fácil. O último dia foi horrível. Estava em mim um sentimento de angústia e revolta... Angústia por deixar a família, amigos e namorado... Sentia o meu coraçãozinho bem apertado. Revolta, uma vez mais contra esse país, que apenas sabe formar jovens para o desemprego... As horas iam passando, deixei tudo para fazer até ao último minuto o que fez com que o tempo ainda voasse mais rápido. Doeu muito ver os meus entes queridos comovidos pela minha partida. Doeu muito as palavras de encorajamento que os meus avós me deram... Doeu mas é por isso que me enchem de orgulho. Quando penso nisso, ainda fico emocionada... Gostava de os ter junto a mim e estou simplesmente a 2000 km. O voo foi durante a noite e por isso, tentei descansar um pouco. Não foi fácil, pois todos sabíamos que esta não era uma viagem qualquer. Hoje estou aqui. Distante, mas com todos no meu coração. Penso neles a toda hora, e felizmente que hoje em dia temos as redes sociais e os chats que nos encurtam imenso a distância. Mas já sinto saudades... Saudades do sorriso da mãe, das brincadeiras dela, dos gestos que só uma mãe sabe dar.
É, sem dúvida, quando deixamos de ter algo que mais sentimos falta e mais valor damos. Aqui, o sol quase não existe. Acordamos e parece que já é de noite. É deprimente, mas assim tem que ser. Agora entendo o porquê das pessoas gostarem tanto do ambiente e temperatura que esse nosso cantinho nos dá. Este ano, não vou ter verão... Nem sol, nem praia. Esta é uma altura do ano, melhor para mudar de país, pois a temperatura não é tão baixa, mas mais dificil porque basta abrir o facebook e visualizar fotos dos amigos/conhecidos em festas de rua, esplanadas à beira de mar... e blá blá blá. Isso custa muito. Mas rápido me vem o pensamento de que isso não é de todo o mais importante...
Já vai fazer uma semana que aqui estou. Muitos sentimentos confusos, pouco claros, muita motivação, tristeza e orgulho. Após uma semana... 2 entrevistas, 1 das quais obtive resposta positiva para trabalhar. No entanto, pude recusar, pois iria fazer 120 km por dia, o que não se tornava lá muito favorável e/ou sustentável. O ordenado mínimo aqui é de 1467.00€, na minha área geralmente pagam sempre mais, o que torna tudo ainda mais motivante. E a família? É o pior. Ver a dor da minha mãe parte-me o coração. Os amigos? Os verdadeiros ficam, apesar de nunca mais ser igual... E apesar de já sentir falta da minha vida social. O namorado?! Logo se vê. Sinceramente, neste momento já não me estou a preocupar com isso. Sinto cada vez mais distância, cada vez mais tenho a certeza do que quero e não quero. Vou tentar fixar-me mas é no meu objectivo, pensar mais em mim. Perdi demasiado tempo a pensar nos outros...
Apetece-me estar contigo, e sentir aquele abraço forte que me deste. A tua segurança, a tua palavra... (o teu calor...) Estás mesmo a ser meu amigo... Sei que para ti é mais do que amizade, e eu estou também a ficar confusa. Felizmente ou infelizmente, vou abandonar a nossa zona, e isso, tenho a certeza que irá esfriar isto que ambos parece sentirmos. A minha vida aqui, é um círculo... O tempo passa, mas a minha vida gira num círculo em que volta sempre ao mesmo. Sinto-me presa, e ao mesmo tempo apetecia-me agarrar essas coisas que se envolvem nesse círculo...
Poderia aqui dizer-vos muita coisa acerca do passo que estou a tomar, mudar de país, mas confesso que não estou nos dias em que mais me apetece exprimir sobre o assunto. Irei fazê-lo sim, mas não hoje. Enfim, sou apenas mais uma do meio milhão de portugueses a emigrar... Vou lutar para fazer a vontade aos nossos políticos. Apenas queria deixar como marca o dia em que comprei o bilhete para o futuro desconhecido que breve darei início!!! Contagem decrescente...
Se alguém me perguntasse assim de rajada e em qualquer momento do meu passado, o que é mais importante para mim, amor ou o companheirismo, eu responderia: "Amor". Ou "Amor com companheirismo". Pois para mim o companheirismo "deveria" estar incluído no amor. Numa altura da minha vida tive que fazer uma escolha: Ou o grande amor da minha vida, ou aquela pessoa que foi meu namorado durante muitos anos e que sempre me acompanhou. Após muito pensar, optei pelo grande amor da minha vida. Acho que não há nada melhor que olhar para a pessoa que amamos e saber que ele está ali, e que o podemos beijar e abraçar. Durante uns tempos senti-me mais do que completa. Mas obviamente que aquela paixão fogosa, acompanhada de amor nunca pode estar assim tão..."quente". Passado uns tempos, comecei-me a aperceber que nem sempre o amor que se está viver pode ser acompanhado de companheirismo, de estabilidade e segurança. Somos um conto de fadas, no entanto, os anos foram-me ensinando que os contos de fadas só existem mesmo nos contos para crianças. Um conto de fadas, numa grande história de amor... Mas nós não vivemos de histórias de amor. Vivemos sim, do nosso trabalho e de decisões importante a tomar... E é aí que algumas vezes a nossa história falha. E é ai, que eu me interrogo o que será mais importante... Desfrutar de um grande amor, ou ter aquela pessoa de quem até gostávamos, por quem sentíamos aquela atracção, que era companheiro e um amigo verdadeiro?! Posso mudar a minha anterior resposta?! Começo a achar que mais vale optar pela segunda opção. E podem até me achar fria, mas o amor e uma cabana só funciona mesmo em filmes.